SUSTENTABILIDADE| 24.10.2025
A contagem regressiva climática entra em fase crucial
Em novembro, a COP30, a grande cúpula mundial do clima, será realizada em Belém, no coração da Amazônia brasileira. Cerca de 200 países se reunirão para analisar os avanços do Acordo de Paris, estabelecer novos compromissos de redução de emissões para 2035 e fortalecer os mecanismos de financiamento climático. O encontro ocorre após 2024 ter sido o ano mais quente da história e com o limite de segurança climática prestes a ser ultrapassado.
O agravamento da crise climática já convence, infelizmente, até mesmo os mais desconfiados. As suas causas podem ser negadas ou questionada, o que é extremamente problemático, mas todos reconhecem que o calor no verão está cada vez mais insuportável e que a violência dos fenômenos meteorológicos é cada vez mais severa.
De 10 a 21 de novembro será celebrada a COP30 no Brasil, onde os países convidados farão uma avaliação do estado dos acordos e compromissos voltados a deter a mudança climática. A situação é preocupante. O ano de 2024 finalizou como o mais quente já registrado, com uma temperatura média global de 15,12°C. Esse valor representa um aumento de aproximadamente 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais, o patamar estabelecido no Acordo de Paris como limite crítico para prevenir os efeitos mais perigosos da mudança climática. Além disso, a concentração de dióxido de carbono na atmosfera também registrou um novo recorde, com uma média de 422 partes por milhão (ppm), o que corresponde a um aumento de mais de 50% em comparação com os níveis de 1750. Trata-se do nível mais elevado em pelo menos três milhões de anos, conforme dados da NOAA e da Organização Meteorológica Mundial.
Os efeitos do aquecimento são fatais. Um estudo do ano anterior, liderado pela rede internacional de cientistas World Weather Attribution, concluiu que a mudança climática intensificou os 10 eventos meteorológicos extremos mais letais registrados no planeta nas últimas duas décadas, os quais custaram a vida de pelo menos 576.042 pessoas. É assim que são explicadas as ondas de calor constantes, as enchentes devastadoras como as causadas pela DANA no sudeste da Espanha ou na Europa Central, e os furacões de categoria 5 como Beryl, Helene e Milton, que impactaram seriamente na costa leste dos Estados Unidos e em vários países da América Central.
A mudança climática deixou de ser uma ameaça futura: em 2024, 26 dos 29 eventos meteorológicos extremos analisados por cientistas foram diretamente intensificados pela ação humana
O último relatório da Lacuna de Emissões da ONU, de 2024, alerta que, se não houver um aumento significativo da ambição climática na próxima rodada de compromissos de redução, a possibilidade de prevenir que o aquecimento global ultrapasse 1,5°C se dissipará em poucos anos. De acordo com o mesmo documento, as emissões globais deveriam ser reduzidas em 42% até 2030 (em relação aos níveis de 2019) e em 57% até 2035, para cumprir esse limite. Entretanto, as políticas atuais estão muito distantes de atingir tais objetivos.

É verdade que cada vez são mais utilizadas energias renováveis. Em 2024, a geração de eletricidade a partir de fontes limpas voltou a ultrapassar recordes em escala mundial, segundo dados do Global Electricity Review da Ember e do relatório da Agência Internacional de Energia (AIE). Em muitos países, as novas instalações renováveis já são mais acessíveis do que operar usinas térmicas de carvão ou gás, o que acelerou a transição energética mesmo sem a presença de subsídios. Contudo, a utilização de combustíveis fósseis continua em expansão em muitas economias emergentes, especialmente em países como Índia, Indonésia e Filipinas.
Olhares voltados para o Brasil
A realização da COP30 em Belém, no coração da Amazônia brasileira, carrega um peso simbólico. Esse território abriga 20% da água doce mundial e um quarto da biodiversidade terrestre. Também atua como um sumidouro natural de carbono, absorvendo milhões de toneladas de CO anualmente, e regula padrões de chuva cruciais não apenas para a América do Sul, mas também para outras regiões do planeta. Na atualidade, essa área está seriamente ameaçada pelo desmatamento, pela mineração ilegal, pelos incêndios criminosos, pela expansão agrícola e pelos megaprojetos de infraestrutura. Em certos pontos, os cientistas alertam que pode estar próxima de um ponto de não retorno, no qual deixaria de ser uma floresta tropical para se transformar em uma savana, liberando mais carbono do que é capaz de armazenar.
Nesse contexto, a MAPFRE terá uma participação ativa na conferência como parte de nosso compromisso ambiental e de nosso papel como ator-chave na gestão do risco climático. Um dos momentos de destaque será a apresentação do relatório Mudança climática e setor segurador, elaborado pela MAPFRE Economics, no qual examinamos os prejuízos causados pelos eventos climáticos extremos, as lacunas de proteção seguradora, o papel do resseguro e os mecanismos de proteção como os títulos de catástrofe.
No campo financeiro, os investidores estão adotando cada vez mais critérios ESG, com objetivos ambiciosos para elevar a sustentabilidade de suas carteiras nos próximos anos
Tudo isso integra nosso Plano Corporativo de Sustentabilidade, que estabelece objetivos claros para avançar na descarbonização e em um modelo econômico mais sustentável e justo. Como detalhado em nosso Relatório de Sustentabilidade, estamos progredindo com passos firmes em relação aos nossos compromissos climáticos e de sustentabilidade. Ao término de 2024, conseguimos neutralizar nossa pegada de carbono em 10 países, com o objetivo de ampliar esse número para 15 entre 2024 e 2026. Atualmente, dispomos de sedes na Espanha, México, Itália, República Dominicana, Peru e Malta que já operam com sistemas de autoconsumo de energia por meio de painéis solares.
Na esfera financeira, 90,2% de nossa carteira de investimento é qualificada sob critérios ESG (ambientais, sociais e de governança), com o compromisso de atingir 95% em 2026. Além disso, pelo menos a metade dos novos produtos da economia e investimento serão sustentáveis.
Em termos operacionais, reduzimos 25% de nossa pegada de carbono em comparação com 2022 e mantemos o objetivo de alcançar uma redução de 30% até 2030, com o objetivo final de chegar a zero emissões líquidas em 2050. Atualmente, 80,5% do consumo de eletricidade da MAPFRE provém de fontes de energia renováveis.
Antonio Huertas, presidente da MAPFRE, sublinhou que o “compromisso ambiental é aumentar a exigência em sustentabilidade de forma firme e progressiva, para acompanhar a sociedade em direção a uma transição energética justa com forte vocação social”. Esta abordagem será igualmente refletida nos encontros que organizaremos com funcionários, especialistas e outros grupos de interesse durante a COP.
Com nossa participação na COP30, reafirmamos nosso compromisso de acompanhar empresas, pessoas e comunidades em um processo de transformação climática que seja justo, viável e socialmente inclusivo. Porque o futuro será sustentável ou não será.
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